sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O BANCO DA CEGUEIRA POLÍTICA: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Observar e ser observado fazem parte das leis naturais, mas esse direito foi também transferido para as relações do nosso espaço público e da Sociedade. Nesse jogo de visibilidades, o pior que nos pode acontecer é ser ignorado, é não nos prestarem atenção, porque quer se queira quer não, acabamos por viver num mundo e numa realidade de percepções, sentimentos e representações.

Este tipo de direito natural e social passou a alterar-se a partir do momento em que tudo, seja no espaço público, seja na opinião pública, passou a ser mediatizado. Isto é, a realidade que nos mostram é a realidade de outros, o ser ou não ser notícia é opinião de outros, quer dizer, foi-nos roubado nesse espaço mediático o direito de ver com os próprios olhos e ao mesmo tempo de ser visto tal como somos realmente.

A partir daqui, disputa-se a atenção dos media, o ser visto, passou-se da ideia de Sócrates “Penso, logo existo” e de Damásio “Sinto, logo existo”, para o “Vêem-me, logo existo”. O problema seguinte foi que com tanta concorrência a disputar a atenção pública, esta passou a ser um bem escasso e aqui os media, mas sobretudo a televisão, transformou-se numa espécie de banco que concede créditos de visibilidade e celebridade a um conjunto restrito de pessoas. E banco nunca foi uma associação de beneficência! Poderia falar-se de que entre o grupo que é objecto especial da atenção mediática, estão os políticos, os candidatos a cargos públicos, os intelectuais mais narcisos, os próprios mediadores que alternam esse papel com o de dar opinião, os carentes de atenção e naturalmente que também gente boa, mas esses são apenas 1%. De todos, falaremos apenas do caso dos políticos.

Desde sempre, ver era um atributo dos grandes líderes, a visão esteve sempre associada ao verdadeiro poder, ou seja, aquele que se exercia e era reconhecido. Ver mais longe e o mais longe possível, era uma graduação ilimitada da qualidade dessas lideranças e aqui se formava uma espécie de raio de confiança que permitia a construção do futuro. Porque falo no tempo passado?

Porque os nossos políticos de agora entendem que governar é apenas ser visto, de tal maneira vivem essa obsessão consigo próprios, que deixaram de ver e quando não se vê fica-se cego para a realidade circundante.

A televisão, sobretudo ela, já não fala da gente importante e que tem opinião com valor, prefere ser ela a criar essa gente importante, falando dela e fazendo-a aparecer, mesmo sem a exigência de ter qualquer ideia ou opinião relevantes. E neste jogo de aparições públicas, é a quantidade e o tempo de exposição que conta.

De repente a política, neste palco televisivo, é apenas uma representação onde se pede apenas uma cara ou uma máscara e um mínimo de ideias. Já não há discussão eleitoral, não há programas, não há compromissos, apenas pequenos factos.

De repente os votos resultam das quotas de aparição nas televisões, doença que também foi transmitida à Assembleia da República onde a grande maioria das intervenções são de uma enorme pobreza de espírito. Já não nos vemos ali representados!

Com tanta preocupação pela sua própria visibilidade, os nossos políticos mostram-se incapazes de nos verem, de verem a realidade do país e nem ouvem o grito da criança quando lhes diz que o rei vai nu.

É verdade, esses príncipes mediáticos da política e das aparições televisivas estão despidos…mas já não é só da roupa! Precisamos retirá-los depressa de cena por indecente e má figura, nós precisamos de gente verdadeira!

1 comentário:

  1. Se as Televisões perderem audiência, o que elas vendem perde importância.

    O que nos devemos perguntar é porque razão continuamos a «ver & ouvir» o que as televisões transmitem, quando já todos sabemos tratar-se de informação manipulada e previamente filtrada, qual síndrome de Estocolmo que nos mantém presos a quem nos aprisiona ao ponto de nos impedir de em vez de arriscar votar em novos projectos preferirmos não votar, votar em branco ou nulo ?

    Que espécie de gente somos nós que alternamos entre estado de tele-dependência crónica para estados de UTOPIA, vazia de nexo e sentido, sem que nunca pelo meio RACIONALIZEMOS a realidade ?

    E não são só os portugueses.. é um problema HUMANO, diria mesmo Humanitário.

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