sexta-feira, 29 de junho de 2012

A AFIRMAÇÃO DA SOCIEDADE CIVIL: I Congresso Internacional da Cidadania Lusófona · Um evento organizado pela PASC e pelo MIL · Sociedade de Geografia em Lisboa · 2 e 3 Abril de 2013.


































Nos dias 2 e 3 Abril de 2013, realizar-se-á, em Lisboa, na Sociedade de Geografia, o I Congresso Internacional da Cidadania Lusófona, subordinado ao tema “A Afirmação da Sociedade Civil”. Com este Congresso, que reunirá Associações da Sociedade Civil de todo o Espaço Lusófono (que congrega não só os países da CPLP - Comunidade dos Países de Língua Portuguesa, como as diversas regiões com ligações históricas a esta Comunidade, como ainda as diversas Diásporas lusófonas), pretendemos:

  • Promover o conceito de “Cidadania Lusófona” e fazer o diagnóstico sobre o estado da Sociedade Civil em todos os países e regiões do Espaço Lusófono, tendo em conta os diversos factores que condicionam a sua devida afirmação (a título de exemplo: relação com o Estado; representação política; liberdade económica; associativismo cultural e cívico; presença na comunicação social).
  • Promover a criação de uma Plataforma de Associações Lusófonas (PALUS), que congregue Associações da Sociedade Civil de todo o Espaço Lusófono – no âmbito desta, procuraremos também criar plataformas sectoriais, que agreguem as Associações da Sociedade Civil de todo o Espaço Lusófono conforme a área de interesses de cada uma delas (a título de exemplo: uma Associação Lusófona de Defesa dos Direitos de Autor e uma Associação Lusófona de Imprensa).

O “I Congresso Internacional da Cidadania Lusófona” está aberto a todas as Associações da Sociedade Civil do Espaço Lusófono. Caso pretenda participar, preencha a Ficha de Inscrição, indicando a Secção em que se pretende integrar, e envie-a para o nosso e-mail: cidadanialusofona@gmail.com.

 

Secções do Congresso


A · A Sociedade Civil no Século XXI: força e fragilidade(s).

B · A Cidadania Lusófona: realidade ou utopia?

C · Valores da Cultura Lusófona: o que nos une e o que nos separa.


Prazos


Inscrição · 30 de Agosto de 2012.

Publicitação das Associações Participantes · 30 de Outubro de 2012.

Publicitação do Programa do Congresso · 30 de Dezembro de 2012.


Contactos


Sede do MIL · Sociedade da Língua Portuguesa, Rua Mouzinho da Silveira, 23, 1250-166 Lisboa.

Telefone · (+351)967044286

domingo, 24 de junho de 2012

A PROPÓSITO DO DISCURSO DO 10 DE JUNHO DE ANTÓNIO SAMPAIO DA NÓVOA: um artigo de Maria Perpétua Rocha.


por Maria Perpétua Rocha (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 
O discurso de António Sampaio da Nóvoa nas Comemorações do Dia de Portugal, de Camões e das Comunidades, no passado dia 10 de Junho foi, no elencar dos diagnósticos da situação que o País atravessa, de uma simplicidade transparente, corajosa e muito rara no léxico político actual. Nele recentra o País e os Portugueses no processo decisório político e no traçar do Futuro de Portugal. É, por isso, um texto que devemos reter.

No seu discurso, Sampaio da Nóvoa exorta a uma participação activa da Sociedade Civil na vida pública, alavanca essencial para a concretização do processo democrático, do desenvolvimento e do progresso nacionais.

Nesse sentido, a PASC identifica-se com o pensamento expresso, mas vai mais longe no capítulo das soluções apresentadas.

A Europa, onde geograficamente estamos inseridos, fez parte do nosso passado; foi a situação europeia que nos levou à procura de outros horizontes e dessa epopeia beneficiaram os portugueses, mas sobretudo beneficiaram a Europa e o Mundo. A Europa faz parte do nosso presente; as ambiguidades que criou geraram tensões que a fragilizaram como potência, com consequências gravosas que se fazem sentir em países estrategicamente vitais do seu espaço, entre os quais Portugal. A Europa, para o bem e para o mal, fará parte do futuro de Portugal e dos Portugueses, tendo nós por isso obrigação fundamental de contribuir para reforçar o pensamento ideológico de uma Europa Democrática, uma Europa dos Cidadãos.

No entanto, ao contrário do referido, consideramos que o Futuro de Portugal, tal como o passado e o presente, não se esgota na Europa.

Portugal, o único País que, tendo sido colonizador, gerou a espontaneidade de uma Comunidade Lusófona, unida pela Língua, pela Cultura e pelo Coração, tem que procurar a sua valorização através da afirmação da Lusofonia.

Portugal, “Ponto de Encontro” de três Mares, não pode ignorar essa vantagem competitiva única. Foi por esses Mares que trouxe o progresso ao mundo, foi neles que encontrou a “Ponte” para que a interculturalidade acontecesse e que a primeira globalização se fizesse.

É fundamental que a estratégia marítima aconteça e que a riqueza que ela representa não seja considerada uma utopia.

Pese embora a importância da solução apontada de aproximação da Universidade/Sociedade e Universidade/Empresas, importa lembrar que, para que tal aconteça, são necessárias medidas concretas, mensuráveis, uma vez que este tema tem sido recorrente nas últimas décadas, com a pobreza de resultados que conhecemos.

Mais entendemos que, ao contrário do sentido que possa ser inferido do discurso, a Universidade não deve ser considerada parceira independente da Sociedade, porque entendemos que a Universidade é parte integrante da Sociedade Civil, com a responsabilidade de criar elites que detenham não só o conhecimento científico e tecnológico, mas sobretudo sejam garantes dos valores e da ética e desenvolvam o sentido do serviço da Res Publica.

Importa lembrar que em Portugal existe um número recorde de Universidades: 11,5 por milhão de habitantes… contra 2,8 no Reino Unido, 2,2 em Espanha, 5,1 em França, 8 na Finlândia! O problema português não é a falta de Universidades, mas sim melhores universidades, outras universidades, outra aprendizagem; o conhecimento requer uma  abertura à modernidade, a um pensamento e acção novos. Inovar, hoje, assume um sentido que não se esgota na tecnologia, é fundamental que a inovação assuma o sentido social. Como diz João Caraça, a nossa modernidade não passa de uma modernidade importada, precisamos fazer a nossa.

Sabemos, tal como Sampaio da Névoa nos deixou na sua intervenção, que o futuro das democracias, dos Estados de Direito e consequentemente de Portugal, passa por uma Sociedade Civil organizada, activa, inovadora, vigilante, que saiba dar voz aqueles que de entre si se encontrem mais fragilizados.

A solução para Portugal passa pelos portugueses, que devem, entre outros:

  • Enunciar que Futuro querem para Portugal;
  • Mobilizar-se para a participação e intervenção na concretização dos objectivos nacionais;
  • Exigir transparência e ética aos seus Governantes e às suas Instituições;
  • Pugnar um Sistema Político que funcione para o País e para os cidadãos;
  • Reconhecer os melhores e fazer a sua discriminação positiva;
  • Lutar pela equidade entre os portugueses;
  • Ter acesso ao trabalho e ao pleno desenvolvimento do seu conhecimento e criatividade, das suas capacidades e do seu talento; esta é a maior riqueza de Portugal e actualmente o nosso maior desperdício;
  • Ser capazes de fazer mais, melhor e diferente de outros países.

sábado, 23 de junho de 2012

PRECONCEITOS QUANTO ÀS CARACTERÍSTICAS DOS TRABALHADORES SÉNIORES: um artigo de Rui Martins.


por Rui Martins (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).


 
Existem muitos preconceitos quanto às carateristicas dos trabalhadores séniores: são considerados menos produtivos, mais onerosos e resistentes à mudança. A combinação, em doses variadas, destes tres estereótipos leva muitos trabalhadores com mais de quarenta anos ao desemprego e trava o seu regresso à condição ativa. Estes preconceitos são particularmente populares entre os responsáveis de recursos humanos que assim secundarizam dois fatores que lhes são unanimemente reconhecidos: a sua maior experiência e disciplina de trabalho.

Com o aumento brutal da população mais idosa no continente europeu e Portugal sendo um dos países com uma das taxas de substituição demográfica mais baixas da Europa, é evidente que o desemprego sénior será cada vez mais um problema grave afetando mais e mais cidadãos. O previsível aumento do número de reformados vai pressionar, como nunca antes, as finanças públicas e ameaçar a solvência da Segurança Social. Este fenómeno terá que conduzir a duas respostas: as organizacoes públicas e privadas terão que se habituar a terem nos seus quadros quantidades inéditas de cidadãos séniores e, simultaneamente, haverá um impulso cada vez mais poderoso para que a idade efetiva de reforma seja cada vez mais dilatada. Este fenómeno já se observa no Japão, país que tem hoje a pirâmide demografica que a Europa terá daqui a pouco mais de dez anos. No País do Sol Nascente, nomeadamente, embora a idade oficial de reforma para os homens seja de 68 anos, na prática a taxa de emprego dos homens entre os 55 e os 59 é de mais de 90%.

Atualmente, são várias as razões que levam os cidadãos a trabalharem até mais tarde: alguns apreciam aquilo que fazem de tal forma, que preferem continuar a trabalhar. Outros, prefeririam a reforma mas por razões financeiras não o podem fazer. Obviamente, a condição de saúde e os requisitos físicos da atividade laboral sao também elementos que levam os trabalhadores séniores a continuarem ou a abandonarem a vida ativa.

Frequentemente, os trabalhadores séniores são mais qualificados e bem remunerados que os seus colegas mais jovens, algo que os tem tornado um alvo preferencial para os departamentos de recursos humanos menos empenhados. Curiosamente, esse comportamento é mais observável em trabalhadores séniores do sexo feminino, tornando mais raras que os homens, as mulheres que trabalham além dos cinquenta anos.

Atualmente existem menos trabalhadores séniores à procura de emprego que jovens, mas permanecem nessa condição durante mais tempo, em média, do que os mais jovens. De facto, a maioria acaba por deixar o mercado de trabalho, não porque não consegue emprego, mas porque entrou na idade de reforma, revelando assim um dos problemas mais crónicos (e menos mediatizado) da sociedade ocidental contemporanea.

Na Europa, a taxa de desemprego sénior subiu, entre 1997 e 2007, de 36% para 45%. O problema é particularmente grave na Áustria e em França (39%) e relativamente raro em países que têm taxas de emprego entre os 54 e os 65 anos muito elevadas: 70% na Suécia, 59% na Dinamarca ou 52% na Alemanha, ou seja em alguns dos países mais produtivos da Europa... coincidencia?

Na Europa existem basicamente três razões que levam os cidadãos a sairem da vida ativa e a requererem a sua reforma:

  • Questões individuais: género, nível académico, estado de saúde. Estudos recentes revelaram também que, geralmente, os indivíduos têm uma boa noção da sua esperança de vida efetiva e que ajustam a sua saída do mundo de trabalho em função dessa perspetiva, algo que vem negar o discurso catastrofista daqueles que usam o argumento do aumento da esperanca de vida como forma de aumentar até limites absurdos a idade mínima de reforma.
  • O contexto familiar em que vive um indivíduo determina fortemente a sua decisão em permanecer na vida ativa. Neste campo a reforma do parceiro, dos maiores amigos, os rendimentos globais da família e o estado de saude, assim como a existência de menores ou dependentes condicionam fortemente esta decisão.
  • O contexto estatal, com os sistemas de reforma e saúde à cabeça, determina de uma forma particularmente decisiva a decisão de um trabalhador sénior permanecer ou não em atividade.

quarta-feira, 20 de junho de 2012

A TROIKA DEVIA TER OUVIDO O PESSOA: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

É verdade, a Troika devia ter-se deslocado aos Jerónimos e ter ouvido o Fernando Pessoa. Já vou explicar porquê!

A Troika comportou-se em Portugal como qualquer consultor, chegou com ar dinâmico, envolvida em expectativa, ouviu o que precisava ouvir e deve ter perguntado:

- Então quais são os principais problemas?

E as pessoas consultadas lá foram respondendo! E depois, perguntaram ainda:

- E para esses problemas, quais são as melhores soluções?

E as mesmas pessoas lá foram debitando as soluções. No final, com tudo o que ouviram, elaboraram o relatório que nós conhecemos.

Não estarei muito longe da verdade, porque afinal naquele relatório não vi nada que já não tivesse sido falado entre nós, vezes sem conta. Sinceramente, não há uma única ideia que me tenha surpreendido.

É evidente que a Troika ouviu o formal, as Instituições, os mesmos de sempre, daí que este relatório seja pobre, porque se tivesse ouvido a inteligência e a alma deste país, se tivesse ido falar com o Pessoa, como eu disse, o relatório teria sido bem diferente e os papéis teriam sido completamente invertidos.

Pessoalmente, considero que Porter disse-nos coisas bem mais importantes e que tinham a ver com o investir naquilo em que éramos bons, este relatório diz-nos exactamente o contrário, vem confrontar-nos com aquilo em que somos manifestamente fracos e quando se investe nas fraquezas, só podemos esperar a mediania.

Vejamos o que diz Pessoa num ensaio a que chama “Como organizar Portugal”:
«[...] o problema da organização divide-se em três partes, uma das quais compete ao teórico, e as duas outras ao prático. Temos, primeiro, a determinação do plano ou norma, segundo o qual se vai organizar; temos depois, a colocação, nos lugares que lhe competem, dos homens competentes que hão-de efectivar, na prática, essa organização; temos por último, a coordenação dinâmica dos esforços desses homens, a maneira de pôr a organização em marcha. A primeira é de pura teoria; a segunda e a terceira pertencem já à prática. Para a primeira não há senão regras; para a segunda e a terceira não há outra regra senão a realidade, nem outra norma, na segunda parte, senão a intuição na escolha dos homens, e, na terceira, o espírito prático de coordenação de esforços. Não nos interessa- escusado é dizê-lo- senão aquela parte que é teoria [...]»

O nosso real problema nunca foi ao nível das ideias, do diagnóstico, nisso somos do melhor que há no mundo e poderemos até prestar bons serviços ao FMI, ao BCE ou à União Europeia. O nosso problema é a capacidade de organizar e fazer, é nisto que se tem perdido a nossa capacidade e inteligência, os nossos modelos de gestão tem-se mostrado completamente incapazes de realizar. Mas Pessoa acrescenta ainda mais:
«[...] Quem estuda um problema para o compreender não tem diante do seu espírito senão esse problema; quem estuda um problema para o resolver e o aplicar tem diante do seu espírito duas coisas - o problema e a realidade a que há-de ser aplicada a sua solução [...]»

Prescindimos da autoria do famoso relatório da Troika, isto é, estudar para compreender e ficámos apenas com o papel de o aplicar. Há aqui um enorme paradoxo relativamente ao nosso talento. Teria sido preferível assumir apenas a teoria e deixar a execução à Troika, seria até inovador, sermos apenas a parte criativa e entregar em outsourcing a execução.

Quem sabe se com outros líderes, pelo menos temporariamente, nós não daríamos um salto qualitativo enorme? Para terminar com mais uma citação de Pessoa, ele diz:
«[...] no equilíbrio das forças do progresso e de resistência ao progresso reside a vitalidade de uma nação [...]»

terça-feira, 19 de junho de 2012

NOVAS FORMAS DE TRABALHO PARA RESPONDER AO PROBLEMA DO DESEMPREGO SÉNIOR: um artigo de Rui Martins.


por Rui Martins (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).


 
Um pouco por toda a Europa, começam a aparecer formas de trabalho que visam responder às altas taxas de desemprego sénior. Eis algumas, recolhidas nas conclusões do congresso europeu "The Challenge of Ageing: Cooperation in Action":

  • Teletrabalho · Esta forma de trabalho tem sido usada na Styria (Áustria); com equipamento especial, permitiu que alguns séniores regressassem à vida ativa trabalhando a partir de casa.
  • "Gestão Intermédia" e "Gestão de Transição" · Remunerado por uma empresa especializada em gestão de recursos humanos, este tipo de trabalho pode ser de duração fixa, como freelancer, e aplicar-se apenas num contrato muito específico ou numa missão muito particular.
  • "Empresa Guarda-Chuva" · Uma forma de emprego que combina a independência de trabalhar como um consultor com a segurança de ganhar um salário. A ideia é que uma pessoa contratada numa base de tempo completo trabalha para uma "empresa guarda-chuva" que lhe paga o salário. Esta empresa funciona como uma empresa de consultoria e fatura em função do número de horas realizadas pelo seu empregado.
  • Emprego múltiplo e Partilha de Trabalho · O Emprego Múltiplo refere-se à situação de trabalhar para vários empregadores em part-time, por forma a tornar-se, no todo, num emprego a tempo inteiro. Por "Partilha de Trabalho" refere-se a trabalhar para uma associação de empresas diferentes. O grupo emprega apenas na base de horários completos de trabalho.
  • Criação de Emprego · Alguns países da Europa simplificaram os processos administrativos para a criação de novas empresas. Tem sido o caso de Portugal e de França, onde o programa de "auto-emprego" é um dos factores que explicam porque é que 20% dos auto-empreendedores têm mais de 60 anos.
  • Sistemas de trabalho flexível nas etapas finais da vida laboral ativa · Trabalho por processo e não por horário, horários e salários reduzidos, distribuição de horários que permitam que estes colaboradores continuem a trabalhar, mas a um ritmo que lhes seja mais adequado.
  • Desenvolvimento de tutorias e de patrocínios · Dividir o horário de trabalho entre a atividade profissional e o treinamento de trabalhadores mais jovens. Assim se garantiria melhor a passagem de conhecimento e simultaneamente se encontrariam formas mais adequadas a estes trabalhadores que estão perto do final da sua vida ativa.

domingo, 17 de junho de 2012

A NOVA QUESTÃO SOCIAL: um artigo de Jorge Marques.


por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 
A Questão Social é, como sabemos, um conceito do século XIX associado às transformações políticas, económicas e sociais e no contexto da Revolução Industrial. Muitas das bases do que é hoje a nossa disciplina da gestão das pessoas surge neste ambiente, nomeadamente a organização do trabalho, a luta e as reivindicações sindicais, o desemprego, a produtividade do trabalho. Em minha opinião, algumas dessas marcas prolongaram-se demasiado no tempo e mantém-se até hoje no espírito de muitos empresários e gestores, mas também de muitos trabalhadores. Uma dessas heranças radica na ideia de que nas empresas existem sempre dois lados, um que pensa e o outro que faz, um que manda e o outro que obedece, coincidindo apenas na vontade de que ambos parecem querer ter apenas direitos e não deveres. Esta última questão sobre direitos e deveres tem aliás alimentado a regulação daquilo que se vem chamando, em linhas gerais, o trabalho subordinado. As últimas discussões da trilogia político-económico-social, reunidas à volta da Concertação Social, ainda se situam muito neste tipo de regulação.

Como a maior parte de nós, penso e sinto que este já não me parece ser o caminho, porque o nível de preocupações e de acção das empresas que melhor funcionam, daquelas que tem classe europeia e até mundial e que aí concorrem, gerem as pessoas com outro tipo de mentalidade, com todo o tipo de flexibilidade, com outro tipo de instrumentos e naturalmente com outro tipo de relações.

Desde o aparecimento da Questão Social, a harmonia dos seus três lados foi sempre bastante duvidosa, com excepção talvez de um período no pós-guerra. Nessa altura, o perigo da perda da Coesão Social, forçou os estados a promover o social e a regular o económico. Existiu uma liderança política.

É difícil regressar a esse período de equilíbrio entre essa trilogia de parceiros, nos termos em que ocorreu, sobretudo porque o mundo mudou radicalmente e porque os três lados modificaram-se também em função disso mesmo e ganharam novas velocidades e novos espaços.

O Sistema Político é hoje incapaz de qualquer regulação sobre o económico, mesmo numa nova eminência de perda de coesão social, porque caiu numa exagerada dependência do sistema financeiro global.

O Sistema Económico fragmentou-se em duas partes, a economia real e o mundo financeiro virtual. Neste caso, também a economia ficou excessivamente dependente da virtualidade desses produtos financeiros, mais rentáveis para accionistas e investidores do que as empresas produtivas.

O Sistema Social, sempre muito dependente do emprego por conta de outros, cresceu substancialmente em formação, qualificação, mas não em autonomia. Tal como sempre aconteceu, embora com perfis diferentes, resta-lhe a entrada nos fluxos migratórios, agora num espaço maior.

Verificamos assim que os três sistemas que se deveriam complementar, independentemente dos conflitos de percurso, estão neste momento a seguir os seus caminhos, a própria realidade não pára e também ela está a caminhar só.

Podemos especular, mas aquilo que prioritariamente nos preocupa e onde as nossas ideias ainda poderão ter alguma utilidade, é sem dúvida nas questões ligadas ao emprego/desemprego e a uma outra forma de procurar a produtividade. Isto porque o desemprego continuará a aumentar, porque mesmo com alguma recuperação económica ele não terá melhorias significativas e sobretudo porque existe nessa multidão de desempregados, uma enorme capacidade completamente desperdiçada, aquilo a que já chamámos o principal capital, a nossa principal riqueza.

Precisamos de uma reflexão sobre a necessidade de um novo modelo de desenvolvimento do nosso mercado de trabalho, onde são precisas muitas ideias, algumas experiências, muitas vontades, muitos e variados parceiros. Só com criatividade nas ideias e na acção, podemos encontrar novos caminhos.

A questão é: o que é que podemos fazer para colocar em acção as capacidades, conhecimento e competências de todos aqueles que não estão a trabalhar e de que a economia e o país tanto precisam?

quinta-feira, 14 de junho de 2012

SEIS BOAS PRÁTICAS EUROPEIAS PARA ENFRENTAR O DESEMPREGO SÉNIOR: um artigo de Rui Martins.


por Rui Martins (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).


 
  • O município de Varna, na Bulgária, instalou um programa de "Reforma Assistida". O seu objetivo consiste em garantir um emprego e o apoio financeiro à reforma de pessoas desempregadas que se encontrem muito próximo das condições mínimas para entrarem em reforma.
  • Na província polaca de Kuyavian-Pomerania está em implementação o programa "Gerações Solidárias 50 Mais". O programa tem como alvo pessoas que se encontram fora do mercado de trabalho ou que experimentam alguma forma de exclusão e oferece orientação pessoal com coaching, apoio psicológico, etc.. O programa também ambiciona alterar a forma como os empregadores olham para as pessoas com mais de cinquenta anos. O programa decorre desde Agosto de 2009.
  • No condado de Baranaya, na Hungria, foi implementado um pacto ao nível regional (Baranayapaktum) com o objetivo de aumentar o nível de formação e de igualdade de oportunidades especialmente para quem tem mais de cinquenta anos.
  • No condado de Suceava, na Roménia, existem vários programas de "Prolongamento da Vida Laboral" conjuntamente com a agência local de Emprego. Os programas visam a divulgação de informação, aconselhamento e apoio. Adicionalmente, uma base de dados listando cidadãos séniores e possíveis empregadores está também em desenvolvimento.
  • O projeto "SIP 50+" do Estado austríaco de Styria tem como objetivo integrar pelo menos 40% das pessoas nos grupos alvo no mercado de trabalho. O alcance deste objetivo é medido no número de contratos de trabalho obtidos pelos participantes no programa nos três meses que se seguem à sua saída do programa. A missão do projeto é melhorar a capacidade dos participantes para integrarem o mercado de trabalho através de contratos de termo fixo ou com treinamento profissional. Cada participante recebe um plano de integração individual que incluí seminários, treinamento e aulas. O treino e as aulas são de vários tipos, desde posturas e atitude saudáveis no escritório, a treino mental e yoga, meditação, pilates, gestão de stress, etc.. Graças a um subsídio de 40%, o empregador consegue recursos qualificados, treinados e experientes a custos baixos, mas ao fim do período experimental ocorre geralmente uma contratação. No último ano em que há registos (2010) a percentagem de sucesso rondava os 60%.
  • O Fundo Social Europeu e o Ministério do Trabalho do Luxemburgo lançaram o projeto NoAgeSite por forma a promover a diversidade etária nas empresas. Trinta grandes empresas luxemburguesas aderiram, entre as quais se contam vários Bancos e empresas comerciais. O programa visa divulgar a necessidade trabalharmos cada vez até mais tarde na vida e usa o trabalho de especialistas médicos, como o do Dr. Gene Cohen, da Universidade Georges Washington, que defende que "as pessoas mais idosas ainda mantém uma capacidade inteletual quase intacta e podem ainda crescer mentalmente"; este renomeado especialista advoga ainda que "todas as pessoas de mais idade que continuam ativas asseguram assim um impacto positivo no seu cérebro".

quarta-feira, 13 de junho de 2012

CONTRARIAR O DETERMINISMO: um artigo de Jorge Marques.


por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Até finais do séc. XVIII e inícios do XIX o Trabalho era uma actividade mais ou menos artesanal e centrada na casa ou na pequena oficina.

A revolução industrial vem alterar completamente esse panorama, não só nas formas e espaços de trabalho, mas também na sua organização e consciência. Essas alterações mudaram significativamente a vida das pessoas, nomeadamente no que respeitou á sua mobilidade.

Mas a verdadeira revolução ocorre já na transição do séc. XIX para o XX, quando cientistas britânicos, ao contrário dos seus colegas continentais, começam a experimentar novas formas de trabalho e iniciam aquilo que chamamos uma cultura de inovação. Foi esta opção por novas ideias de organização e de estruturas, que aliada à tecnologia, acabou por mudar tudo o que se tinha feito até então, tendo efeitos práticos nos aumentos da produtividade que se verificaram nesta altura.

Nessas novas ideias, acabou por se integrar uma estrutura de poder, cujos impactos foram superiores aos da tecnologia. A separação do pensar e do executar, com justificação na época, acabaria com a autonomia dos trabalhadores e de fazer deles apenas parte de uma máquina onde eram fáceis de substituir.

Estou a fazer este enquadramento histórico, apenas para o associar ao que considero ser a inversão desta tendência nos dias de hoje, sobretudo o que respeita aos domínios da hierarquia e das competências genéricas e fáceis de substituir. As novas respostas são um desenho horizontal de colaboração e que necessita de conhecimento mais especializado. A ruptura que deveria ocorrer com a mesma dimensão da que aconteceu na revolução industrial não se efectuou, nem ao nível da consciência do trabalho, nem da nossa mudança de hábitos, nem sobretudo na mudança das estruturas de poder.

Neste momento estamos confrontados com dois tipos de opção:

  • Um é o aceitar de uma certa forma de determinismo onde os acontecimentos ultrapassam as nossas acções e onde haverá muita falta de coerência e coesão. Se não for contrariado este determinismo vai conduzir-nos a um maior isolamento, a uma renovação da fragmentação do trabalho, ao aumento da exclusão. E falo da fragmentação, porque embora ela não tenha exactamente a mesma configuração da simplificação do trabalho anterior, conduzirá outra vez a pequenas tarefas, a pequenas e urgentes decisões, a um ritmo e tempo de trabalho que invadirá todo o nosso espaço privado e de reflexão. Num tempo que precisará de maior aprofundamento e especialização de tudo, corremos o risco de continuar a não ter tempo e espaço para fazer isso;
  • O outro caminho tem a ver com a construção do futuro, com um futuro elaborado por nós mesmos. Neste caminho, embora de uma outra perspectiva, teremos que fazer o mesmo que os cientistas práticos da revolução industrial e regressar a experiências com outras formas de trabalhar, de aprender depressa uns com os outros e adoptar rapidamente as boas ideias que ainda nos faltam. Pode até acontecer que essa inversão seja o regresso a casa ou à pequena oficina, agora com novas formas, novos instrumentos, nova tecnologia, mas sobretudo com um novo pensamento e consciência do trabalho.
 
De todas as mudanças necessárias, haverá três delas que têm que ocorrer no curto prazo:

  • Num mundo onde 5 mil milhões de pessoas estarão ligadas entre si, as competências gerais perdem valor, o generalista tenderá a acabar para ser substituído pelo especialista em série cuja preocupação é acrescentar valor. Estruturas, sejam da organização, sejam de poder, terão que ser completamente alteradas. O mesmo acontecerá com a ideia de espaço de trabalho;
  • A construção de vidas e carreiras baseada no individualismo e competição perde sentido. Num mundo que nos empurra para a fragmentação e isolamento, a palavra de ordem é colaboração, cooperação, ligação, redes. Mesmo que virtuais, as relações tem que ser fortes, diversificadas e emocionais;
  • Seja na vida profissional, seja na pessoal, a qualidade, os compromissos, as experiências e o equilíbrio substituirão a quantidade e a febre do consumo.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

A NECESSIDADE URGENTE DE DESENVOLVER O ASSOCIATIVISMO COMO GARANTE DA DEMOCRACIA: um artigo de Rui Martins.


por Rui Martins (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 


Vivemos, formalmente, em democracia. Mas haverá existência democrática além da formal se o sistema, apesar de todas as aparências, não for sustentado numa Sociedade Civil ativa, dinâmica e interventiva?

Um sistema político pode ser democrático, mas o regime pode não o ser se estivermos perante uma sociedade amorfa, incapaz de exprimir a sua opinião e de interferir na gestão da Res Pública de forma vigilante, consciente e ativa. Não pode haver democracia plena se o poder democrático estiver limitado à expressão de um sufrágio num período eleitoral e se nos períodos intermédios entre votações não se abrir espaço para a intervenção dos cidadãos.

Em democracia, o poder político não pode ser um exclusivo dos partidos políticos ou do Estado. Para que haja democracia plena este poder deve estar distribuído também pelas populações, livremente organizadas em movimentos e associações.

Atualmente, observamos uma nítida alienação da capacidade política das populações, que parecem ter desistido de terem uma vida cívica ativa, “deixando para os políticos profissionais” a política.
 
Julgamos que pode ser encontrada alguma responsabilidade pela presente grave crise social, económica e financeira na classe de “políticos profissionais” que sequestraram a democracia transformando-a numa partidocracia esclerosada, impermeável e imóvel. A “profissionalização” da classe política reduz a eficácia da democracia e a sua qualidade tornando-a num formalismo esvaziado de sentido. Apenas um incremento radical na vida cívica pode recuperá-la do estado dormente em que hoje se encontra.

A crescente concentração do poder político num grupo cada vez mais fechado de indivíduos, que o transferem dentro das mesmas famílias genéticas e de interesses, bem como o seu enredar em densas (e opacas) teias de lobbies, constituem atualmente, a par da passividade dos cidadãos, as maiores ameaças à democracia.

Existe na sociedade portuguesa um profundo défice de participação cívica. Este vazio foi sendo preenchido pela partidocracia e pelos interesses económicos e financeiros que financiam a partidocracia e que hoje a manipulam de forma mais ou menos sub-reptícia. Os elevados níveis de alienação, de controlo dos meios de comunicação e o medo induzido pelo elevado desemprego explicam porque é que a maioria dos cidadãos se deixou subjugar a esta minoria de interesses económicos e políticos e adotou uma atitude passiva perante a realidade e a comunidade em que estão inseridos.

A Sociedade Civil é composta por várias camadas: família, associações de voluntários, movimentos sociais e meios de comunicação social que interagem entre si e se relacionam de forma muito diversa com o Estado e as instituições oficiais.

Mais recentemente, a partir de meados da década de noventa, começaram a surgir novas entidades, mais adaptadas a responderem a crises humanitárias geográfica ou temporalmente limitadas nos espaços e tempos onde as instituições estatais não conseguem responder com o tempo ou amplitude necessárias. Esse é o espaço dos movimentos sociais e das organizações não-governamentais.

A expressão da liberdade da ação dos cidadãos na democracia exerce-se, assim, nestes espaços, de forma coletiva, enquanto que de forma individual essa mesma liberdade se exerce apenas durante os sufrágios eleitorais. Só através da participação ativa nestas entidades grupais é que os cidadãos poderão intervir civicamente nas sociedades, complementando assim a sua eventual presença numa militância partidária e a expressão da sua orientação de voto no momento dos sufrágios eleitorais.
 
As associações, movimentos sociais e ONGs constituem uma possibilidade efetiva de os grupos afirmarem a sua identidade e defenderem os seus interesses e motivações num processo arbitral nem sempre pacífico, mas produtivo quando ativo, junto do Estado e perante os administradores da sempre escassa "coisa pública".

Podemos dizer que uma sociedade democrática de qualidade é sempre uma sociedade onde a vida associativa e de movimentos sociais é rica e intensa. Estas entidades grupais são assim uma das condições a uma boa vida democrática nas sociedades.

Atualmente, Portugal possui o triste recorde de ter o mais baixo índice de associativismo por habitante de toda a Europa. As causas (como em qualquer fenómeno social) são múltiplas, mas buscam no regime do Estado Novo uma das suas origens mais profundas. Sinal disso mesmo foi a explosão da criação de novas associações logo após a revolução de Abril de 1974, para poucas décadas depois tornar a cair, expondo assim as grandes fragilidades da democracia em Portugal e os níveis relativamente superficiais de democratização da nossa sociedade.

Se os portugueses não conseguirem vencer estes baixos níveis de participação associativa e cívica, mantendo-se igualmente alheios das lides e militâncias político-partidárias a nossa sociedade será a cada vez menos democrática e mais oligárquica.

Se não soubermos agarrar com ambas as mãos o dever inalienável de interferirmos nas comunidades em que vivemos, de defendermos as causas em que acreditamos e onde estamos dispostos a colocar os nossos melhores esforços, de forma gratuita e abnegada, não conseguiremos impedir que a democracia degenere em formas cada vez mais decadentes de ditadura (ainda que mascarada de forma cada vez mais súbtil) .