sábado, 23 de fevereiro de 2013

AFINAL AINDA É SÓ UM PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Habituámo-nos a ouvir, sempre que os governos cometem erros sucessivos e não querem assumir as respectivas responsabilidades, que se tratava apenas de um problema de comunicação, de dificuldades na passagem da sua mensagem.

No entanto, sempre que há problemas efectivos de comunicação e os governos não percebem as mensagens que vem da sociedade civil, transformam isso num problema político, em ameaças á democracia e em todo o tipo de vitimização e perda de liberdades. Fale-se de comunicação!

Nesta matéria há um emissor, aquele que fala e há um receptor, aquele que ouve, mas isto não basta para haver comunicação. Para que ela exista de facto, tem que haver um retorno a que chamamos feedback, ou seja, a garantia que o receptor ouviu e percebeu a mensagem. Há mesmo quem diga que comunicar é saber ouvir!

Com o evoluir do conhecimento, a comunicação ganhou mais profundidade e o retorno precisou de um novo significado. Quer dizer que comunicar já não é o falar e o ouvir, muito menos o abanar de cabeça, mas o sentir. Criou-se com isto uma dimensão emocional e o simples feedback evoluiu para um feedback emocional, tornando-se numa das mais importantes competências nas relações sociais e nas lideranças. Em resumo, quem quer comunicar já não tem que se preocupar apenas com o seu discurso, nem sequer garantir que os outros ouvem, mas tem que garantir no retorno das suas mensagens, aquilo que eles sentem. A comunicação verdadeira só acaba aqui, quando o emissor percebe o que o seu receptor sente. Convém acrescentar que este sentir é a fonte das nossas emoções, que por sua vez determinam as nossas acções mais autênticas. O que se está a passar?

O governo enquanto emissor das várias mensagens tem falado, mas começa logo a cometer o primeiro erro de comunicação, nem sequer se preocupa se a sociedade ouviu, nem sequer se preocupa com o retorno mais básico. Naturalmente que nestas circunstâncias e sem estar atento ao que as pessoas sentem, não existe qualquer hipótese de comunicação.

Na realidade o governo não ouve e nem sente, apenas quer ser ouvido.

Admira-se agora o governo e algumas pessoas mais conciliadoras que estejam a acontecer um tipo de manifestações que impedem os governantes de falar, alguns mais que outros. É uma mensagem da sociedade que os governantes deveriam ouvir, como deveriam ter ouvido o 15 de Setembro, mas não, a preocupação egoísta é a de continuar a ser apenas o governo a falar. Este não é um problema político á partida e o coro dos direitos de expressão não cabe aqui. O problema é do foro da comunicação e nessa matéria o direito de falar é igual ao dever de ouvir, em comunicação há dois lados ou então nem sequer podemos falar de comunicação. O que a sociedade está a querer transmitir, essa é a mensagem, é que não queremos ouvir mais o governo, de que estamos fartos, que a continuar assim queremos que se cale de vez. E tudo isto é dito na forma de uma linguagem rica e simbólica e entendida por todos, através de uma canção chamada Grândola Vila Morena, forma a que até o primeiro-ministro foi sensível, mesmo sem perceber a mensagem.

Mas pode argumentar-se que os manifestantes são grupos organizados com o objectivo de desestabilizar e querer apenas a queda do governo? Mas afinal o que são o governo e os partidos políticos? Não são também e apenas outro tipo de grupos organizados para conquistar e se manter no poder, para defender apenas os interesses de outros grupos?

Há de facto um risco para a sociedade e aqui o problema começa a ser político, é o da suposição de que os governos por simples estatuto se assumam como a única parte do estado e a tudo tenham direito. Em democracia isso não é assim e neste particular é o governo que está em falta e deve corrigir o seu comportamento.

Como recomendação, precisa de novos consultores de comunicação que o ensinem a comunicar efectivamente e não a manipular informação. A política é uma arte nobre e não o jogo das escondidas.

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