segunda-feira, 8 de abril de 2013

2ª CORRIDA D. ESTEFÂNIA - DIA DA MÃE · 5 de Maio de 2013



A PROPÓSITO DE UMA NOVA NARRATIVA: um artigo de Jorge Marques.


por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Pode ou não gostar-se do sujeito Sócrates, mas o homem parecia querer imitar um profeta, falava de tomar a palavra e repetiu mais de duas dezenas de vezes ao longo da primeira entrevista televisiva o conceito de narrativa nova, como se houvesse também uma velha narrativa. De tudo o que disse parece que aquilo que ficou e repetiu nos dias seguintes foi mesmo a ideia de uma Nova Narrativa. Até que ponto esse conceito tem fundamento e um novo significado? Vejamos:

  • O conceito clássico de inteligência, isto é, o ser racional, lógico e analítico, caiu muito nas bolsas de valores. Com a teoria das inteligências múltiplas e outras, ela passou a ser apenas mais uma entre muitas e nem sequer a mais importante. A causa tem a ver com as alterações profundas que se deram quer na sociedade, quer na economia e que passaram da Era da Informação que era linear e lógica para uma Era Conceptual onde domina a criatividade, a empatia e a holística.
  • Com este tipo de mudança, alteraram-se também as competências de base da Sociedade, das quais destaco, porque tem a ver com essa tal ideia da Nova Narrativa, uma que se denomina História e a outra o Sentido. História que é aqui o sinónimo de narrativa, isto é, a capacidade de colocar os factos num contexto, se quisermos, reunir texto e contexto e apresentá-lo com impacto emocional. Esta é a essência da Nova Narrativa, condensar conhecimento, contexto e emoção. O Sentido é depois o orientador dessa narrativa e funciona como verdadeiro propósito. Costuma mesmo dizer-se que nós nascemos para o Sentido e não para o prazer, a menos que este faça sentido. O Sentido, neste caso, tem depois dois tipos de avaliação, um individual e tem a ver com a variante passiva ou activa do Ego de cada um e a outra, que tem a ver com o valor moral social. Em qualquer dos casos, a narrativa só existe quando faz sentido para o próprio e ele fica satisfeito ou quando faz sentido para a sociedade. Mas reparem que estou ainda a falar de narrativa, porque quando queremos falar de Nova Narrativa, então entramos no espaço de uma Era Conceptual e isso passa a ter um outro significado. Neste caso, a narrativa com sentido passa a ser dominada pelo high touch que é uma capacidade de sentir empatia pelos outros, entender a subtileza das relações, encontrar satisfação dentro de si e ajudar os outros a fazer o mesmo, ir para além do comum, da trivialidade e da rotina. Se quisermos, a Nova Narrativa é sobrecarregada com mais valor da Moral Social.
  • Hoje vivemos ainda numa não narrativa, ou seja, num discurso daqueles que nos apresentam factos sobre factos, sem qualquer narrativa ou sentido. É esse o discurso dominante quer dos governos, quer das oposições, uns mais do que os outros. Dá para perceber que a satisfação desta não narrativa esta focalizada sobretudo no Ego Passivo dos seus narradores, isto é, aquele que é dominado pela insegurança, apatia, agressividade, autoritarismo e destruição de valores. Quer ainda dizer que a solução para as nossas crises, dificilmente poderá sair de tal falta de narrativa, precisaríamos no mínimo de um texto coincidente com o contexto, precisaríamos que esse Ego Passivo se fosse tornando Activo, ou seja, criativo, com capacidade de realização e capaz de superar obstáculos. Tudo isto teria que começar na aprendizagem e na prática de uma atitude aparentemente simples e que se chama Humildade, cujo significado é o de uma auto-estima inteligente.
  • É verdade que começamos a ter um esboço de narrativas, umas boas e outra más, algumas bem e outras mal organizadas. Infelizmente a má é a que está organizada, é a narrativa mediática dos partidos políticos que tem imposto aos media os seus mais variados comentadores, como quem diz, vão e contem-lhes histórias. O que está a acontecer é que evoluímos de uma não narrativa para uma narrativa viciada e de histórias incompletas. Tudo isto é pouco sério, porque não tem o contraditório da Sociedade Civil, da realidade maior deste país e em nome da qual todos dizem falar. E porque será que a narrativa da Sociedade Civil não passa nos media? Talvez porque essa seja mesmo Nova e ponha em causa todas as outras que ficariam sem graça, talvez porque resistimos sempre ao Novo e preferimos as imitações.
  • O que faltará então para que se possa falar de uma Nova Narrativa? Em primeiro lugar precisamos construir uma narrativa com sentido e suportada num texto e contexto coerentes. Isto não quer dizer igual, quer dizer que ela é capaz de respeitar toda a diversidade da Sociedade e não apenas a dos partidos políticos. É uma quase narrativa ou uma narrativa viciada, por exemplo, tudo o que opõe os discursos dos governos e oposições, as explicações sobre a boa e má governação, sobre a verdadeira representatividade da Assembleia, sobre a independência do PR, sobre a competência e credibilidade de alguns governantes, sobre as negociações e avaliações da Troika, sobre tudo o que os governos dizem que é para bem do povo;
  • É o começo de uma Nova Narrativa as duas páginas do último Expresso, quando dá um enorme título e mensagem “ A Solução para Portugal está na Sociedade Civil”. Somos naturalmente por uma Nova Narrativa, mas que comece desde logo por ser aquilo que a define…uma história com sentido e, em boa verdade, o nosso Sistema Político perdeu esse sentido!

domingo, 7 de abril de 2013

I CONGRESSO DA CIDADANIA LUSÓFONA: conclusões do primeiro dia, por Garcia Leandro.


I CONGRESSO DA CIDADANIA LUSÓFONA
Organização da PASC
com a Coordenação do MIL e da Sphaera Mundi - Museu do Mundo.
SOCIEDADE DE GEOGRAFIA DE LISBOA
2 E 3 DE ABRIL DE 2013.



Das horas aqui passadas, neste primeiro dia, parece-me que se podem tirar algumas conclusões, algumas intemporais e outras conjunturais:

Relativamente aos objectivos


Pretende-se começar a assumir a necessidade de criar a Cidadania Lusófona com apoio na Sociedade Civil; os 15 anos passados sobre a criação da CPLP provaram que tal objectivo não terá sucesso se não for muito apoiado pelas diferentes sociedades civis de cada País da Lusofonia. O sistema político e a estrutura político-partidária provaram que, por si sós, são incapazes de construir um forte conceito de Cidadania Lusófona o que torna indispensável a afirmação da Sociedade Civil como apoio permanente a montante. Só que as nossas sociedades civis, incluindo a portuguesa, são fracas e têm estado desinteressadas desta questão estratégica; é assim preciso ir realizando a construção e afirmação da Sociedade Civil; parte-se de muito longe para um objectivo que está muito distante e para alguns é mesmo utópico, mas que tem de ser perseguido sem desistir.

Relativamente à organização e participantes


A PASC deitou mãos a uma organização complexa e difícil em termos de objectivos, de participantes e de logística que foi erguida com grande sucesso graças ao empenhamento e esforço do MIL que coordenou a organização do Congresso e da Sphaera Mundi que organizou o Espectáculo sob o desígnio "Viagens" que, de forma única, enriqueceu o espírito do Congresso através da participação generosa e solidária de Artistas de todo o Espaço Lusófono". Desde entidades muito representativas das várias áreas da Lusofonia até à participação de associações que vêm de todo o tipo de actividades e regiões, temos uma parte significativa da Sociedade Civil Lusófona aqui representada, o que é apenas um primeiro passo de muitos anos de trabalho; a seu lado temos a PASC com mais de trinta associações privadas portuguesas a iniciar uma ligação que se espera produtiva e feliz. É a Língua que tudo pode juntar, o que se confirma com uma Festa da Lusofonia, em sarau musical, apresentando um alargado grupo de artistas de várias nacionalidades que estão ligados pelo Português. Culturas diferenciadas e cruzadas, que mutuamente se influenciaram e que a língua consegue juntar! É um ativo que não podemos desperdiçar.

Relativamente ao mundo actual


O mundo actual está em profunda mutação, com mudanças tão profundas como as que ocorreram depois da Revolução Francesa e da I Revolução Industrial, bem como após as I e II Guerras Mundiais. Desde a queda do Muro de Berlim e da implosão da URSS que temos estado sempre em período de transição, ocorrendo factos e eventos que mais diferenças vão marcando para o futuro. O mundo actual já pouco tem a ver com o mundo pré-1989, embora muitas mentalidades não tenham mudado; só a qualidade em todas as actividades, o aproveitamento da melhor tecnologia e as ligações em rede serão os grandes trunfos de qualquer grupo social. A Geografia está a mudar (o que nunca tinha ocorrido), bem como a hierarquia dos Poderes, surgindo uma Europa com muitas dificuldades para enfrentar as mudanças que se vinham anunciando, enquanto outras regiões do globo estão a crescer.

Relativamente aos falantes da Lusofonia


É neste novo mundo, muito diferente do do passado, que as Comunidades da Lusofonia devem encontrar novos modos de aproveitar as suas potencialidades e reduzirem as vulnerabilidades; têm de conseguir sobreviver com uma maior afirmação. Este Congresso é a prova de que existe uma vasta sociedade civil em Nações e Regiões que quer aproveitar a sua geografia, história e, principalmente, a língua comum, para reforçar as suas relações culturais, académicas, tecnológicas e económicas. Há que assumir o passado e utilizá-lo na construção do futuro.

Tudo deve ser posto ao serviço do progresso e do desenvolvimento (a retórica não chega), o que significa melhorar a economia e o nível social de todos, aproveitando as capacidades nacionais e regionais de cada um e reforçando-as com todo o tipo de sinergias que possam ser aproveitadas.

Há que entrar afoitamente na mundialização de todas as actividades, aproveitando a língua, as novas oportunidades e as relações históricas, recusando os pequenos mundos fechados e as divergências em que muitos ainda vivem.

O crescimento em rede permite, não apenas o crescimento de um, mas o crescimento de todos de um modo que pode ser potenciado pelo efeito integrador, o que é uma verdade absoluta no Atlântico Sul em cujas costas se fala o português e existem países em grande crescimento económico.

A sociedade civil, aqui pela primeira vez reunida, normalmente muito dispersa, pode ser o acelerador desse movimento necessário com representantes em todos os continentes.

A Língua não é tudo, mas ajuda muito, se o desejarmos.

Só temos um caminho, continuar a trabalhar nesta direcção e com mais força.

Este Congresso sendo um grande esforço de vontade e de organização é apenas uma pequena gota de água no grande mar das possibilidades da Lusofonia, o que nunca poderemos esquecer; estamos apenas no princípio de uma rota que deve ser de sucesso!


Sociedade de Geografia de Lisboa, 2 de Abril de 2013.