terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

A HONESTIDADE VAI FICAR NA MODA: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Foi com esta frase que o líder do Movimento 5 Estrelas, Beppe Grillo, comentou os resultados eleitorais do passado fim-de-semana em Itália e depois de obter 25,5% de votos. Em nenhum outro país do mundo, segundo os analistas, um movimento de cidadãos organizados conseguiu tal expressão eleitoral.

Com o Movimento, uma enorme quantidade de jovens foi eleita e entre eles, muitos jovens licenciados, desempregados, gente descrente na política, nos partidos e nas instituições em geral. Um verdadeiro ar puro vai penetrar no Parlamento e limpar certamente muita teia de aranha que por lá haverá. No entanto, por uma questão de princípio Grillo não quis ser eleito, é um tipo de liderança que recusa o estrelato e dá aos outros a oportunidade de brilhar.

Grillo, apesar de ser um homem do espectáculo, não quer falar na televisão, prefere os olhos nos olhos e as redes sociais e sonha que um dia os cidadãos se vão eleger entre si, vão ser capazes de mandar em si próprios e sem a tutela dos partidos. Será certamente um homem muito falado pelos media nos próximos tempos, talvez também porque nos vai dar muitas outras lições.

Diferente, mas que vale a pena também referir aqui, Mario Monti e o seu Movimento Cívico obteve mais de 10,5% dos votos, resultado que ficou abaixo das expectativas e diga-se em boa verdade, do seu mérito e da sua coragem de enfrentar esta situação.

A verdadeira lição italiana não tem nada a ver com a governabilidade ou ingovernabilidade da Itália, isso já não constitui novidade e todos sabemos que os partidos são incapazes de colocar os seus interesses de lado e concentrarem-se apenas nos interesses dos países. Aquilo que verdadeira e historicamente aconteceu e deve ser, a partir de agora, uma referência europeia é que dois movimentos da Sociedade Civil representam hoje 36% do eleitorado. Alguma luz parece ter surgido, alguma alternativa para os nossos desgastados sistemas políticos baseados exclusivamente na representatividade através dos partidos políticos. Quer dizer que, ao contrário do que nos vem dizendo, lá como cá, há alternativas a esta alternância que nos tem destruído.

Importa agora falar de Portugal, da situação limite a que chegámos, das sucessivas más governações, da incapacidade dos partidos em colocarem o país em primeiro lugar, dos casos mal explicados, do afastamento dos cidadãos da participação política, da incapacidade de negociação internacional que nos sufoca com impostos, do grave desperdício que é a nossa gente desempregada e daqueles que tem que sair do país, do aumento assustador da pobreza, das pessoas que estão a ser destruídas moral e fisicamente…a tudo isto a resposta tem sido o agravamento da austeridade, da pobreza e uma total incompetência para criar e mostrar um futuro diferente.

Há um ciclo que se sustentou numa democracia representativa através dos partidos que está esgotada de ideias e porque se transformou num sistema fechado, esgotou também a sua energia, não se pode esperar muito mais dela.

É aqui que entra a reflexão sobre as eleições italianas e a necessidade urgente da Sociedade Civil portuguesa se organizar, porque vai precisar de assumir as suas responsabilidades o mais depressa possível. Portugal vai ter que encontrar o seu Grillo e o seu Monti para que se possa começar a construir um outro futuro, porque é mais do que certo que todos juntos somos capazes de mais e muito melhor do que aquilo que temos. Portugal precisa de gerar Movimentos da Sociedade Civil que, de forma organizada, possam concorrer às próximas eleições legislativas, mesmo que os partidos políticos recomecem o seu canto da sereia, como sempre, próximo das eleições. Estamos todos muito bem lembrados das últimas promessas.

Só com representação suficiente da Sociedade Civil, será possível avançar para uma revisão da Constituição, para a Reforma do Sistema Político, para a Reforma do Estado, para a eleição de um Presidente da República que coloque no seu programa este tipo de compromissos. Caso contrário,tudo não passará de mais uma farsa e a continuação do mesmo jogo de interesses. Estas é que são as grandes decisões que temos que tomar!

sábado, 23 de fevereiro de 2013

AFINAL AINDA É SÓ UM PROBLEMA DE COMUNICAÇÃO: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Habituámo-nos a ouvir, sempre que os governos cometem erros sucessivos e não querem assumir as respectivas responsabilidades, que se tratava apenas de um problema de comunicação, de dificuldades na passagem da sua mensagem.

No entanto, sempre que há problemas efectivos de comunicação e os governos não percebem as mensagens que vem da sociedade civil, transformam isso num problema político, em ameaças á democracia e em todo o tipo de vitimização e perda de liberdades. Fale-se de comunicação!

Nesta matéria há um emissor, aquele que fala e há um receptor, aquele que ouve, mas isto não basta para haver comunicação. Para que ela exista de facto, tem que haver um retorno a que chamamos feedback, ou seja, a garantia que o receptor ouviu e percebeu a mensagem. Há mesmo quem diga que comunicar é saber ouvir!

Com o evoluir do conhecimento, a comunicação ganhou mais profundidade e o retorno precisou de um novo significado. Quer dizer que comunicar já não é o falar e o ouvir, muito menos o abanar de cabeça, mas o sentir. Criou-se com isto uma dimensão emocional e o simples feedback evoluiu para um feedback emocional, tornando-se numa das mais importantes competências nas relações sociais e nas lideranças. Em resumo, quem quer comunicar já não tem que se preocupar apenas com o seu discurso, nem sequer garantir que os outros ouvem, mas tem que garantir no retorno das suas mensagens, aquilo que eles sentem. A comunicação verdadeira só acaba aqui, quando o emissor percebe o que o seu receptor sente. Convém acrescentar que este sentir é a fonte das nossas emoções, que por sua vez determinam as nossas acções mais autênticas. O que se está a passar?

O governo enquanto emissor das várias mensagens tem falado, mas começa logo a cometer o primeiro erro de comunicação, nem sequer se preocupa se a sociedade ouviu, nem sequer se preocupa com o retorno mais básico. Naturalmente que nestas circunstâncias e sem estar atento ao que as pessoas sentem, não existe qualquer hipótese de comunicação.

Na realidade o governo não ouve e nem sente, apenas quer ser ouvido.

Admira-se agora o governo e algumas pessoas mais conciliadoras que estejam a acontecer um tipo de manifestações que impedem os governantes de falar, alguns mais que outros. É uma mensagem da sociedade que os governantes deveriam ouvir, como deveriam ter ouvido o 15 de Setembro, mas não, a preocupação egoísta é a de continuar a ser apenas o governo a falar. Este não é um problema político á partida e o coro dos direitos de expressão não cabe aqui. O problema é do foro da comunicação e nessa matéria o direito de falar é igual ao dever de ouvir, em comunicação há dois lados ou então nem sequer podemos falar de comunicação. O que a sociedade está a querer transmitir, essa é a mensagem, é que não queremos ouvir mais o governo, de que estamos fartos, que a continuar assim queremos que se cale de vez. E tudo isto é dito na forma de uma linguagem rica e simbólica e entendida por todos, através de uma canção chamada Grândola Vila Morena, forma a que até o primeiro-ministro foi sensível, mesmo sem perceber a mensagem.

Mas pode argumentar-se que os manifestantes são grupos organizados com o objectivo de desestabilizar e querer apenas a queda do governo? Mas afinal o que são o governo e os partidos políticos? Não são também e apenas outro tipo de grupos organizados para conquistar e se manter no poder, para defender apenas os interesses de outros grupos?

Há de facto um risco para a sociedade e aqui o problema começa a ser político, é o da suposição de que os governos por simples estatuto se assumam como a única parte do estado e a tudo tenham direito. Em democracia isso não é assim e neste particular é o governo que está em falta e deve corrigir o seu comportamento.

Como recomendação, precisa de novos consultores de comunicação que o ensinem a comunicar efectivamente e não a manipular informação. A política é uma arte nobre e não o jogo das escondidas.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

UM MODELO DE ENSINO PROFISSIONAL PARA PORTUGAL: Programa do XIII Encontro Público PASC · Ordem dos Engenheiros em Lisboa · 7 de Março de 2013 · 14:30 - 19:30.



 

 








 

 

 Programa



14:00
Acolhimento e registo

14:30
Abertura
Maria Perpétua Rocha · Coordenadora da PASC; Victor Gonçalves de Brito · Presidente da Mesa da AG da APE, Vice-presidente da OE; João Salgueiro · Economista e Professor Universitário; António Saraiva · Presidente da CIP

15:00
Educação e formação de jovens: fatores psicológicos, sociais e educativos
Presidente · Telmo Mourinho Baptista · Bastonário da Ordem dos Psicólogos
Oradores · Maria do Céu Roldão · Professora Universitária; Francisco Costa Pereira · Professor Universitário; Américo Baptista · Professor Universitário

16:15
Intervalo

16:30
Educação e formação profissional: Visão das Empresas nacionais e experiências internacionais.
Presidente · Representante da CIP
Oradores · Joaquim Meneses · Presidente do Centimfe; Luís Paiva · Administrador da Visabeira Indústria; Hans-Jürgen Müller · Administrador da ATEC; Pedro Henriques · Director de Recursos Humanos da Siemens, SA

17:45
Um projecto para o IPE: modelo de formação na área da defesa e segurança. Aplicação em outros países de expressão lusófona.
Presidente · Aurélio Aleixo Corbal · General da FA, Ex-presidente da EMPORDEF, Ex-CEMFA
Oradores · Maia Gonçalves · Major General, Director de Instrução da Força Aérea; Isabel Simões de Carvalho · Professora do IPE; José Matias · Director de Formação da OGMA, SA; Lucrécio Costa · Professor Universitário, Diretor Nacional de Abastecimento de Água e Saneamento de Angola

19:00
Conclusões e Encerramento.

Entrada gratuita, mas sujeita a inscrição prévia em apexercito@gmail.com.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

UM MODELO DE ENSINO PROFISSIONAL PARA PORTUGAL: documento enquadrador do XIII Encontro Público PASC · Ordem dos Engenheiros em Lisboa · 7 de Março de 2013 · 14:30 - 19:30.



 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

A PASC – Plataforma Ativa da Sociedade Civil, surgiu em Janeiro de 2010 resultante da reunião de um grupo de Associações Cívicas numa plataforma informal. Adotou como um dos seus objetivos, o de dinamizar o contributo da Sociedade Civil para a mudança necessária face à crise financeira, económica, e sobretudo social que já era visível em Portugal.


Hoje, com o contributo de 30 Associações, a missão da PASC continua a ser a de dar expressão a questões de interesse nacional, com apelo à mobilização e consciencialização dos portugueses para uma cidadania ativa e responsável de natureza individual e coletiva.

 


Enquadramento do Encontro



Um sistema de ensino profissional de qualidade é essencial nas sociedades desenvolvidas.

O ensino profissional tem sido objeto de discussão pública nos últimos meses, em consequência da iniciativa do atual Governo de o incrementar, aplicando ou adaptando, para o efeito, modelos experimentados em outros países, em particular na Alemanha.

Depois da interrupção da via técnico-profissional, efetivada no período que se seguiu à Revolução do 25 de Abril, seguiram-se os programas financiados pelo Fundo Social Europeu e os programas de formação do IEFP. Há cerca de 20 anos foram criadas as escolas profissionais e, mais recentemente, estabeleceram-se projetos educativos no sistema público, no ensino secundário.

Mas a despeito dos esforços das estruturas do Estado e do dispêndio financeiro de todos os programa referidos, é patente que uma significativa parte da sociedade portuguesa não reconhece a importância intrínseca do ensino profissional como parte do sistema de ensino obrigatório e desvaloriza-o socialmente, considerando-o o último recurso de educação e formação quando existe insucesso no ensino “regular” de pendor científico-humanístico.

Neste XIII Encontro Público PASC, pretende-se reunir um conjunto de especialistas em pedagogia e em ciência da educação e personalidades representativas dos diversos setores interessados, para realizar um debate aberto sobre as virtudes e as debilidades do sistema de ensino profissional, sobre a sua atratividade e sobre os fatores críticos de sucesso necessários para incrementar a sua eficácia e consolidação. Procura-se identificar um modelo que seja considerado adequado às realidades nacionais. O ensino profissional tem especificidades que importa debater, como a maturidade para a decisão de opção, o balanço entre conteúdos programáticos de índole científica e os de natureza profissional, o grau de especialização do ensino e a formação de docentes, entre outros.

Em complemento e como corolário, pretende-se desenvolver um cenário de implementação de um modelo de ensino profissional, que possa constituir um projeto piloto ancorado na área de Defesa e Segurança, aproveitando os antecedentes do ensino técnico-profissional do Instituto dos Pupilos do Exército, com formação em contexto de trabalho nas Indústrias de Defesa e nos pólos tecnológicos das Forças Armadas e Forças de Segurança. Este modelo de formação poderá levar à motivação dos alunos para eventual futuro ingresso nos quadros de militares e de civis dessas estruturas do Estado.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

INGERÊNCIA DO GOVERNO NAS ASSOCIAÇÕES PROFISSIONAIS: um artigo de Rui Martins.


por Rui Martins (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).


«O conselho geral da Ordem dos Advogados decidiu não acatar a nova lei das associações públicas por entender que ela representa uma ingerência do Governo nesta organização. […] Em causa está a possibilidade de cada ministério – neste caso, o da Justiça – realizar inspeções às associações, que passam a ficar debaixo da sua alçada, explica Marinho Pinto.
“Enquanto eu for bastonário, o Ministério da Justiça não vai fazer nenhuma inspeção à Ordem dos Advogados." Para Marinho Pinto, o objetivo do Governo liderado por Pedro Passos Coelho é “passar a ter as ordens profissionais debaixo da sua pata”. […] os advogados preparam-se agora para impugnar judicialmente as consequências da recente legislação na vida da Ordem.”» Ana Henriques, 2 de Fevereiro de 2013, Público.
 
Goste-se ou não de Marinho e Pinto, o certo é que esta lei – introduzida de forma suspeitosamente discreta – arrisca-se a colocar em risco esse importante esteio da Sociedade Civil que são, em Portugal, as Associações Profissionais. O desvio centralista que representa impõe um jugo de exigência suspeita e que colide com a tradição independente dessas associações em Portugal.

Exige-se assim uma resposta concertada, não somente de uma Ordem Profissional isolada, mas de todas, agindo em consenso e em concertação, porventura organizando e promovendo uma Iniciativa Legislativa de Cidadãos, que anule esta perniciosa lei do Governo da República. E amanhã já não será tarde demais para a lançar…

ACONTECEU. E PORQUE NÃO ACONTECE?: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 


Uma letra apenas distingue o aconteceu do acontece, mas em tempos de austeridade isso tem muito significado e pode fazer toda a diferença. Essa simples letra a mais no acontece(u) é cara, mistificadora, inibidora da acção, conflituosa e inimiga da confiança.

- O que é que o senhor primeiro-ministro está aí a fazer?

- Estou a recuperar os erros trágicos que vocês cometeram…


De facto a linguagem, o espírito e o exercício contabilísticos absorveram completamente a linguagem política. Tal como a contabilidade, que sempre nos mostrou o passado, o que aconteceu, mas nunca nos mostrava o futuro, a política segue-lhe agora o rasto. É que se há verdades absolutas neste mundo, uma delas é certamente aquela que nos diz que nunca conseguiremos mudar o que já aconteceu.

Mais recentemente, mas já não é de agora, temos assistido a todo o tipo de promessas eleitorais, a uma quebra sistemática de todas essas promessas, expectativas, previsões e até mesmo de intenções vindas do sistema governativo. Mesmo assim, em vez de actos de humildade e até de reconhecimento pelos erros cometidos num exercício que se sabe difícil, as únicas respostas acabam por ser sempre as culpas do passado e dos erros dos outros, a manipulação dos tempos verbais e outro tipo de acrobacias.

Esquecem-se os nossos governantes de que este não acontecer sistemático, quebrou já com todos os níveis mínimos de confiança e que seriam necessários para fazer acontecer, deixou-se de acreditar, já não existe a energia que podia fazer acontecer. O povo é generoso, mas não é estúpido.

E com esta linguagem deficiente invocam-se reformas, como se elas tivessem já acontecido, como que mudar fosse apenas criar leis e elas, por si mesmas e de forma automática, fizessem acontecer essas reformas. Não é a mudança da lei laboral, só por si, que vai fazer aumentar a produtividade, competitividade, trazer mais investimento, incentivar o crescimento ou criar mais emprego. Essas leis são meros instrumentos, falta a outra capacidade de fazer acontecer, porque reformar é mudar e isso só se concretiza quando atingimos os objectivos que nos propusemos realizar, quando mudamos mesmo.

Não é a criação de uma Comissão Parlamentar ou uma redacção dourada de Portas que vai fazer a Reforma do Estado, essa reforma não se faz por decreto, faz-se com boas ideias, explicando tudo muito bem, criando confiança, criando perspectivas e compromissos para o futuro, mas compromissos de parte a parte. Assim, trata-se apenas de mais um jogo palaciano entre os parceiros de coligação, de tentativas de responsabilização para que ninguém saia beneficiado eleitoralmente num trabalho que à partida se sabe será muito mau. De facto, juntar o espírito contabilístico e redutor de Gaspar, com a imaginação prodigiosa de Portas, só pode dar uma obra de contabilidade criativa virtual.

Para agravar a situação, estamos todos os dias a ser confrontados com essa fraude a que chamam decisão. O que está a acontecer é que essa capacidade de decisão não passa de meros enunciados de intenção e uma coisa não tem nada a ver com a outra. Intenção é aquilo que temos tido até agora, promessas e previsões que não acontecem mas que enchem os telejornais das 20 horas e decisão é um processo com princípio, meio e fim e que só termina quando acontece o que nos comprometemos fazer.

As leis, as reformas e as propostas que pairam por aí em grande quantidade, seriam quando muito um princípio, se não estivessem a ser confundidas com um fim.

O primeiro-ministro foi claro! Está a fazer a recuperação dos erros do governo anterior, é essa a sua arma política para fazer com que a oposição perca as próximas eleições, em vez de ser ele a ganhá-las e todos podermos beneficiar com o exercício do seu governo. As eleições vão acontecendo, mas porque nada acontece? Porque também elas foram transformadas apenas num fim para os políticos…

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

O BANCO DA CEGUEIRA POLÍTICA: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Observar e ser observado fazem parte das leis naturais, mas esse direito foi também transferido para as relações do nosso espaço público e da Sociedade. Nesse jogo de visibilidades, o pior que nos pode acontecer é ser ignorado, é não nos prestarem atenção, porque quer se queira quer não, acabamos por viver num mundo e numa realidade de percepções, sentimentos e representações.

Este tipo de direito natural e social passou a alterar-se a partir do momento em que tudo, seja no espaço público, seja na opinião pública, passou a ser mediatizado. Isto é, a realidade que nos mostram é a realidade de outros, o ser ou não ser notícia é opinião de outros, quer dizer, foi-nos roubado nesse espaço mediático o direito de ver com os próprios olhos e ao mesmo tempo de ser visto tal como somos realmente.

A partir daqui, disputa-se a atenção dos media, o ser visto, passou-se da ideia de Sócrates “Penso, logo existo” e de Damásio “Sinto, logo existo”, para o “Vêem-me, logo existo”. O problema seguinte foi que com tanta concorrência a disputar a atenção pública, esta passou a ser um bem escasso e aqui os media, mas sobretudo a televisão, transformou-se numa espécie de banco que concede créditos de visibilidade e celebridade a um conjunto restrito de pessoas. E banco nunca foi uma associação de beneficência! Poderia falar-se de que entre o grupo que é objecto especial da atenção mediática, estão os políticos, os candidatos a cargos públicos, os intelectuais mais narcisos, os próprios mediadores que alternam esse papel com o de dar opinião, os carentes de atenção e naturalmente que também gente boa, mas esses são apenas 1%. De todos, falaremos apenas do caso dos políticos.

Desde sempre, ver era um atributo dos grandes líderes, a visão esteve sempre associada ao verdadeiro poder, ou seja, aquele que se exercia e era reconhecido. Ver mais longe e o mais longe possível, era uma graduação ilimitada da qualidade dessas lideranças e aqui se formava uma espécie de raio de confiança que permitia a construção do futuro. Porque falo no tempo passado?

Porque os nossos políticos de agora entendem que governar é apenas ser visto, de tal maneira vivem essa obsessão consigo próprios, que deixaram de ver e quando não se vê fica-se cego para a realidade circundante.

A televisão, sobretudo ela, já não fala da gente importante e que tem opinião com valor, prefere ser ela a criar essa gente importante, falando dela e fazendo-a aparecer, mesmo sem a exigência de ter qualquer ideia ou opinião relevantes. E neste jogo de aparições públicas, é a quantidade e o tempo de exposição que conta.

De repente a política, neste palco televisivo, é apenas uma representação onde se pede apenas uma cara ou uma máscara e um mínimo de ideias. Já não há discussão eleitoral, não há programas, não há compromissos, apenas pequenos factos.

De repente os votos resultam das quotas de aparição nas televisões, doença que também foi transmitida à Assembleia da República onde a grande maioria das intervenções são de uma enorme pobreza de espírito. Já não nos vemos ali representados!

Com tanta preocupação pela sua própria visibilidade, os nossos políticos mostram-se incapazes de nos verem, de verem a realidade do país e nem ouvem o grito da criança quando lhes diz que o rei vai nu.

É verdade, esses príncipes mediáticos da política e das aparições televisivas estão despidos…mas já não é só da roupa! Precisamos retirá-los depressa de cena por indecente e má figura, nós precisamos de gente verdadeira!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

SOCIEDADE DE MERCADO, ANÓNIMA E CIVIL: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

A Sociedade Anónima é, como se sabe, filha e agente legítima da actual Sociedade de Mercado, visa a procura de lucro e tornou-se senhora de quase tudo. Convém lembrar que nada tem a ver com o conceito original de mercado, aquele onde se faziam as trocas e se satisfaziam necessidades.

Na maior parte dos países a Sociedade Anónima tem personalidade jurídica, é tratada como gente, goza dos mesmos direitos e submete-se às mesmas obrigações dos seres humanos.

No entanto, há que avaliar e testar estas semelhanças! Foi o que fizeram um grupo de cineastas ao realizar um documentário a que chamaram “ A Corporação”. Partiram de uma simples pergunta:
 
Se a Sociedade Anónima fosse de facto uma pessoa, que espécie de pessoa seria?

Tentaram responder a esta pergunta com base no Manual de Diagnóstico e Estatística da Sociedade Americana de Psiquiatria (DSV-IV) e fizeram as respectivas comparações.

Vale a pena antecipar que entre os sete parâmetros que vamos apresentar, a Sociedade Americana de Psiquiatria considera de psicopatas ou sociopatas quem responder positivamente a pelo menos três.

A resposta cabe agora a cada um, mas no final eu darei a minha opinião. Por agora analisem apenas as comparações dessa Sociedade de Mercado e das suas Sociedade Anónimas. O que diz o Manual sobre os comportamentos de risco:

  • Incapacidade para respeitar as normas sociais que regem os comportamentos legais, indicada pela repetição de actos que são motivo para prisão;
  • Propensão para enganar, indicada por mentiras repetidas, uso de nomes falsos ou manipulação dos outros para obtenção de lucro ou prazer pessoal;
  • Impulsividade ou incapacidade para planear o futuro;
  • Irritabilidade e agressividade, indicada por brigas ou agressões frequentes;
  • Desrespeito negligente pela segurança própria e dos outros;
  • Irresponsabilidade constante, indicada pela incapacidade de manter um comportamento consciente no trabalho e de honrar compromissos financeiros;
  • Ausência de remorso, indicada pela indiferença ou pela racionalização do comportamento, depois de ter ferido, maltratado ou roubado alguém.

Penso, muito sinceramente, de que há distúrbios graves de personalidade anti-social nesta nossa Sociedade de Mercado e nos sistemas que a suportam e encontrei não três, mas seis desses sintomas.

A Sociedade Civil é, de todas, aquela que ainda mantém traços e comportamentos de normalidade humana e social, por isso a luta é desigual e não contempla possibilidades de consenso, estamos perante indivíduos e organizações que matam a frio e sem piedade.

É tempo de responder ao Ministro Gaspar que queremos regressar aos mercados, mas aos reais, aqueles onde se compra, vende e troca e não aos que visam exclusivamente a especulação e o lucro, esses são anti-sociais e precisam de internamento e tratamento urgente. Já causaram suficiente mal…precisam ser colocados no seu lugar!

E nós, Sociedade Civil, temos que estar cada vez mais atentos, unidos e mais fortes…

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2013

ACABAR DE VEZ COM ESTE CICLO: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

A Sociedade Civil portuguesa esteve demasiado tempo sentada na plateia, assistindo a todo o tipo de usos e abusos do poder por parte dos partidos políticos e sobretudo daqueles que nos tem governado. Da primeira á última fila dessa plateia, ouvimos o que queríamos ouvir, aplaudimos e comportámos-nos como se de um jogo de futebol se tratasse. Agora ganha um, depois o outro, fiéis ao clube, zangados e sem ir aos jogos, que o mesmo é dizer com cegueira partidária e a deixar de votar por desilusão com a política. Com tudo isto, acabámos por ser cúmplices das más governações que já vem de longe e que colocaram o país e os portugueses na situação que todos conhecemos e onde uns sofrem sempre mais do que os outros. A que assistimos nós, considerando que também houve algumas coisas positivas?

  • Cavaco aparece por acaso ou promovido por um pequeno grupo de amigos. Com a sua governação foi destruído o tecido produtivo em troca dos subsídios da Europa. As contas públicas acertaram-se mas a economia real foi destruída. Inventou-se a teoria do Oásis e foi aí que passámos a ser super-consumistas Cavaco, que consegue uma maioria absoluta, acabou por desprezar essa oportunidade e transformou-a em autoritarismo. De tabu em tabu, acabou por sair à pressa e na expectativa que o país esquecesse o mal que tinha feito. Qual foi a penalização que lhe demos? Fazer dele Presidente da República por duas vezes;
  • Guterres veio a seguir, estava lá, no lugar certo e no tempo certo, mas aproveitou uma derrota eleitoral nas autárquicas para abandonar à pressa o Governo. Qual foi o castigo? Um cargo internacional e relevante na ONU;
  • Barroso fazia a travessia do deserto, mas com esta saída de Guterres acabou por cavalgar a onda do poder. Mas não contente com isto, trocou o governo por um cargo melhor remunerado na Europa e sem tempo sequer para que houvesse eleições e fosse substituído. Deixou Santana no seu lugar;
  • Santana não chegou sequer a ser Governo, acabou demitido em pouco tempo e sem deixar obra, boa ou má, só confusão;
  • Com tanta confusão, Sócrates estava mais uma vez no lugar certo, no tempo certo e foi eleito. Também ele, com um empurrão do PR, teve que sair à pressa e demitir-se;
  • Passos, que também estava destinado a fazer mais uma travessia do deserto do PSD, acabou eleito, porque estava lá e apanhou o lugar na cadeira que Cavaco lhe ofereceu;
  • Perspectivam-se novos episódios e em tudo semelhantes.

Este espectáculo a que temos assistido não pode justificar a nossa continuada não acção, porque se ela acontecer, o futuro reserva-nos surpresas ainda bem piores.

Na verdade, o país tem sido governado por acaso, com gente que não ganha eleições por mérito próprio, não ganha eleições pelas propostas que faz ao país, pelo futuro que se propõe construir, mas simplesmente porque estava lá, na cadeira certa e o país vota sempre contra qualquer coisa. É bem patente nas campanhas eleitorais, que os próprios candidatos já nem se dão ao trabalho de apresentar propostas ao país, basta que se coloquem no lado oposto, acentuem os defeitos, os erros e as broncas dos adversários. É claro que a responsabilidade de toda esta manipulação tem a ver com os aparelhos partidários que controlam completamente o país e as nossas mentes generosas, mas adormecidas.

Esta já não é uma forma de fazer política minimamente aceitável, a prática da nossa democracia não pode continuar a ofender a inteligência dos portugueses, há um novo ciclo que é preciso exigir e que obrigue o país a escolher verdadeiros líderes para nos governarem.

É pena que os partidos não tenham consciência disso e não partam para a mesma reflexão que fizeram depois do 25 de Abril quando quiseram e bem, acabar com a tutela do Conselho da Revolução. Nesse tempo, disseram que os militares deviam regressar aos quartéis, porque o povo já tinha capacidade para se governar democraticamente através das organizações partidárias, enquanto suas representantes. É chegado o tempo de ser o povo a dizer também, que desta vez, é capaz de se governar a si mesmo e com os representantes que livre e directamente escolher. Os partidos políticos devem retirar-se para reflectir sobre os seus erros, o novo mundo, ganhar uma visão do futuro, devem fazer trabalho cívico e conhecer o país e os portugueses, para que possam regressar mais fortes e com nova legitimidade. Já são só parte do problema e não da solução.

O que se passa na nossa vida política e na nossa governação já não faz qualquer sentido. Tem que se começar um outro caminho, onde Portugal seja de todos e não apenas de uns poucos, que nem sequer são os melhores!