sábado, 19 de janeiro de 2013

QUEM QUER MATAR A SOCIEDADE CIVIL?: um artigo de Jorge Marques.

 

por Jorge Marques (Este texto representa apenas o ponto de vista do autor, não da PASC, nem das associações que a compõem).

 

 

Primeiro foi Moreira da Silva, um vice-presidente do PSD, que decidiu reunir um conjunto de pessoas do seu partido à volta do tema do Crescimento Sustentado. Produziu trabalho e reflexão e chamou a isso ouvir a Sociedade Civil!

Depois foi Moedas que no antigo SNI junta igualmente um conjunto de secretários de estado, ex-governantes, uns amigos mais próximos para discutir a Reforma do Estado. Também ele disse que estava a ouvir a Sociedade Civil!

Surge agora uma Comissão Parlamentar formada pelos partidos do governo e a que a oposição se recusa participar, também para discutir a Reforma do Estado. Para não ficarem a falar sozinhos, os partidos do governo vão certamente juntar alguns académicos amigos. Uma vez mais surgirá o título de que estamos a ouvir a Sociedade Civil!

Nas próximas eleições autárquicas os partidos, mas sobretudo os partidos do governo, vão inventar uniões com associações da sociedade civil geridas pelos seus militantes e vão aparecer com outro rosto e com as mais bizarras e heróicas coligações! Uma vez mais a bandeira da Sociedade Civil vai aparecer!

Suponho que o mesmo irá acontecer nas próximas legislativas e presidenciais.

De repente e como que por magia, os partidos políticos vão desaparecer de cena e deixam o odioso para a Sociedade Civil, sociedade que sempre desprezaram e afastaram de qualquer tipo de participação política. Com tanta fartura de Sociedade Civil é caso para desconfiar, sobretudo vindo de quem vem e espera-se que não se caia na armadilha que está montada para que alguns dos movimentos da Sociedade Civil avancem no sentido de serem eles mesmos os novos partidos e morrerem na praia.

Mas alguma coisa tem que ser feita!

Talvez começar por dar sentido ao conceito de Cidadania, porque ele tem sido apresentado como muito genérico, tal como acontece com a ideia de mudança, representatividade, participação, responsabilidade política e outros que por agora não querem dizer nada.

Talvez deixarmos de ser consumidores, em tudo, para passarmos a ser Cidadãos exigentes e não dependentes.

De uma coisa não nos podemos esquecer neste momento, é que ao longo da história muitos regimes repressivos esconderam-se por detrás da Cidadania, da Sociedade Civil e falaram em nome dela… muitos ditadores fizeram o mesmo.

Sociedade Civil, Cidadania tem que ter alguma coisa de Moral e de Autêntico… as pessoas tem que sentir que é diferente dos partidos e dos mercados… é mesmo um problema de Confiança!

1 comentário:

  1. Na verdade, o grande problema é a profunda imaturidade politica no sistema politico e dirigente. Não se pode esquecer que o sistema político foi ocupado por uma camada de empresta-nomes (jovens reformados, jovens c/diplomas tirados em série, jovens com CV fabricados, que servem os interesses económicos e financeiros e que se intitulam ser políticos. Eu os considero politiqueiros porque políticos nada têm.
    Fico indignada que desde 74 não houve nenhum actor da sociedade que estimulasse e disseminasse a importância de criar uma dinâmica de maturidade de cidadania e política na sociedade civil. Hoje assiste-se a um resultado da cultura de fachada que disseminaram na sociedade civil: individualismo; inveja que impede uma união; irracionalidade em termos de modelo de comunidade para a sociedade e tantos outros factores. Perante a situação política actual em Portugal e perante a ineficacia de resposta da parte da sociedade civil, tudo indica que assistirão à perda de soberania de Portugal e à nomeação de Portugal como Colónia da NOM. Ou seja será a Colónia da Ditadura desavergonhada, aquela em que o estado social é completamente banido. Na Ditadura do Estado Novo o estado social existia.
    Se em 40 anos Portugal regride então para avançar numa democracia com estado social levará talvez 150 anos.

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